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4.10.10

Eric Taylor - Lines We Wrote In Spring(2010)


Ao final da primeira década do século XXI, parece difícil se animar a ouvir um trabalho rotulado como folk de um artista novo, sem se desanimar ao pensar nos tantos expoentes do chamado neo folk que tem desfilado por aí nos últimos anos.
Se existe algo que eu posso dizer para encoraja-lo, é que de neo Eric Taylor não tem nada.

Ele remete sim a clássicos como Dylan, Nico e mesmo figuras mais recentes como Elliott Smith, mas o faz sem os maneirismos insistentes de artistas atuais do gênero, preocupando-se sim em transmitir as músicas de uma maneira honesta e focada na mensagem, características muito mais importantes na definição do folk que qualquer elemento melódico.

O EP de estréia abre com a bela Black River, e carregada, a faixa trás uma resposta não tão ensolarada àquele que um dia se questionou quanto ao futuro.
Taylor parece dialogar com alguma versão sua do passado, contando sobre um mundo marcado pela indiferença, que une na mesma roda amigos e totais desconhecidos, uma tarefa bem executada por uma interpretação vocal honesta e direta.
A melodia composta quase que unicamente por violão e voz dá o tom certo para acompanhar o sentimento de solidão imposto pela letra, e quando o arranjo dá lugar a eventuais incursões de bateria, piano e flauta, estes não surgem para amenizar o peso da música, mas para sustenta-lo, acompanhando a música de maneira discreta ainda que eficiente.

The Endless Sound of Greatness flerta com o romantismo sob uma perspectiva autocrítica o bastante para afastar a letra de um rumo meloso, com tiradas sarcásticas ao final de cada declaração idealista.
Como na faixa anterior, surpresas surgem após metade do caminho, garantindo que a música não caia em um rumo previsível.

A segunda metade do disco revela um aspecto mais descontraído das composições de Taylor.
A balada folk de The Spinning of the World, embalada por uma bateria mais presente, bons fraseados de gaita e um refrão poderoso com um quê de Rolling Stones fala sobre amores imperfeitos, e prepara o ouvinte para a última faixa do disco. The Few Ones Who Are Free trás consigo um resumo das melhores características de cada faixa, e com uma linha simples e descontraída, fecha o EP que começa triste, com reticências que só parecem render ao ouvinte uma conclusão sobre o futuro: boas coisas virão.


Gênero: folk
Lançamento: Setembro de 2010
Produtor: Eric Taylor
Selo: independente
Para entender melhor esse blá blá blá todo, não perca tempo e baixe o disco com o aval do artista em sua página do CampBand

27.8.10

preview: The Dogbones


Fundador do Daisy Chainsaw, um dos mais divertidos e originais grupos do rock alternativo dos anos 90, Crispin Gray retorna às origens ao lado da riot grrrl Nomi Leonard, em seu novo projeto intitulado The Dogbones.
O primeiro disco tem lançamento marcado para o final do ano, e a julgar pela agenda de shows lotada, e pelo primeiro single All Your Friends(Are Going to Kill You), tem tudo para conquistar território além da cena londrina. Fãs de bandas como The Distillers, Bikini Kill, e principalmente saudosistas da onda de destruição promovida pelo Daisy Chainsaw, devem encontrar aqui a anarquia que procuram. BZ

Acompanhe notícias sobre o grupo pelo myspace: The Dogbones

26.8.10

Klaxons - Surfing the Void(2010)


Os Klaxons devem muito ao gato da foto.
A imagem, entregue à mídia algum tempo antes do lançamento do disco, se revelou bastante eficiente como o chamariz que a banda precisava para distrair o público, enquanto fazia os acertos finais no tão aguardado sucessor do igualmente superestimado e subestimado Myths of the Near Future(2007).

Incumbidos pela imprensa britânica de carregar o pesado fardo de pioneiros do new rave, o grupo teve o azar de ser a promessa da vez no Reino Unido, em um ano em que a população mundial já se encontrava devidamente vacinada, contra as sucessivas febres fabricas pela mídia inglesa.
A essa altura ninguém fora da Inglaterra parecia se importar mais com Pete Doherty e seus problemas com a lei, e com a mesma rapidez que surgiu, o new rave foi descartado, levando consigo a infinidade de bandas igualmente descartáveis que bem ou mal, tiveram 14 minutos de fama a mais do que mereciam.
A grande perda da história, acabou sendo o Klaxons, que mesmo tentando no último instante renegar o título de capitão do navio, naufragou ao lado de uma tripulação que de fato nunca lhe pertenceu.

Algum tempo após liberarem a capa da NME para os próximos da fila, os músicos iniciaram a produção de seu novo álbum.
Ao longo de meses, as informações que vazam do estúdio sugerem um rumo musical um pouco diferente do esperado. O que quer que o vocalista Jamie Reynolds queira dizer, com o termo prog-doom, não parece agradar os executivos da Polydor, que rejeitam o material alegando que o mesmo é 'experimental demais para ser lançado' - o que quer que isso queira dizer hoje em dia.

E nos momentos de maiores dificuldades, realmente aparecem as ajudas mais improváveis, aqui sob a forma do produtor Ross Robinson, que em sua lista de antecedentes criminais, traz boa parte das bandas de nu-metal que já caminharam sobre a terra.

Méritos à parte, a parceria mais peculiar imaginável funcionou, e Robinson com seu estilo de produção direto e - talvez o que tenha aliviado bastante a gravadora - comercial, ajudou o grupo a se lembrar de sua fórmula, ao mesmo tempo em que viabilizou as novas experimentações, agora seguramente inseridas em um contexto definitivamente pop e vendável.

O resultado final da odisséia pode ser sentido em Surfing the Void: dance music executada por músicos de rock, dessa vez deixando o rock muito mais evidente que em seu disco de estréia.

Echoes abre o álbum de maneira muito mais imediata que seu predecessor. Trazendo uma sonoridade decididamente mais orgânica que nunca, o Klaxons se redefine como um autentico grupo de rock, rodeado por uma atmosfera dance que agora parece muito mais disposta a complementar que a roubar a cena.
A temática espacial/new age do primeiro disco permanece, como a capa deixa evidente.

Venusia, com seu ritmo galopante e tom apocalíptico, utiliza LSD como combustível para uma viagem interplanetária, e Extra Astronomical, neta orgulhosa do Pink Floyd não nega as raizes.
Ninguém imagina o que venha a ser o tal Flashover da música, ou então os tais silver discs, mas a questão não possui tanta importância a essa altura. Os Klaxons constroem seu mundo fantástico de maneira tão sólida, que estranho seria questionar sua veracidade.

A jornada é levada à fronteira final com Cypherspeed, sua faixa mais longa e experimental, dando uma prévia do que pode vir pela frente, caso a Polydor - agora certamente mais aliviada - permita em uma próxima viagem que o astronauta felino explore o espaço recém descoberto com maior liberdade.


Gênero: rock alternativo/dance-punk
Lançamento: Agosto de 2010
Produtor: Ross Robinson
Selo: Polydor
Para ter uma idéia, ouça Echoes, Valley of the Calm Trees e Cypherspeed.
Assista o video oficial de Echoes

24.8.10

Portugal. The Man - American Ghetto(2010)


Desde sua estréia em 2006 com o álbum Waiter: You Vultures!, Portugal. The Man se destaca não apenas como um dos mais criativos grupos da atualidade, como certamente um dos mais prolíficos.

Com a impressionante marca de 10 lançamentos oficiais em 4 anos - entre 5 álbuns, 4 EPs, um disco de versões acústicas e infelizmente nenhum registro ao vivo - o grupo natural do Alaska, evoca uma imagem muito mais conceitual do que sua sonoridade.
Passado o susto inicial com um nome que parece pertencer a um primo português do Animal Collective, discos com capas no mínimo desconcertantes e títulos idem, é surprendente o quanto seu rock psicodélico com elementos de blues, jazz e um quê de Flaming Lips soa acessível.

Anunciado 2 meses após o lançamento do elogiado The Satanic Satanist(2009), American Ghetto continua a explorar as possibilidades oferecidas pela tendência pop, assumidamente funkeada, adotada em seu predecessor.
As faixas encaixariam perfeitamente em Satanic, com a diferença que aqueles momentos mais experimentais, que fizeram falta no último disco, finalmente dão as caras por aqui, apoiados por um extenso uso de sintetizadores e drum machines.

The Dead Dog abre o disco com uma batida hip hop envolvente, e guitarras blues, apoiados por uma orquestra fantasmagórica de sintetizadores, que vez ou outra dão as caras até envolver por completo o grupo e revelar o papel fundamental que a eletrônica exerce no disco, seja como coadjuvante, ou mesmo protagonista, no caso do interlúdio que une a primeira faixa à terceira, a brilhante 60 Years.

Parecendo compartilhar com o Beck um apreço pelo groove da Motown, a faixa traz um sério candidato ao refrão mais grudento de 2010. Vez ou outra tomam rumos mais lisérgicos, quase esquecem o que estavam fazendo anteriormente - como no interlúdio onde sobra espaço até para incursões de sítara no melhor estilo Beatles - e de repente ops, onde eu estava mesmo? ah, motown, ok, e tudo termina bem.

E a medida que o disco se desenvolve, indo do space rock cheio de distorção de 1000 Years, ao dream pop com um pé na disco em The Pushers Party, o nome American Ghetto parece sempre cair como uma luva ao determinar o clima comum a todas as faixas, evocado por meio do groove, que caminha do hip hop ao funk e ao blues, com direito a uma escala de 3 minutos no dub com cara de rock progressivo de Do What We Do - outro ponto alto do álbum, explorando por meio de camadas, o amadurecimento vocal do frontman John Gourley.

Em uma entrevista, quando questionado quanto à facilidade do grupo em se re-inventar e lançar discos tão distintos em intervalos de 1 ano, o vocalista riu e comentou 'bom... mas é um ano inteiro!'.
Se American Ghetto representa o destino final, ou apenas um capítulo na extensa jornada da banda, só o tempo poderá dizer, e a julgar pela noção de tempo de Gourley, a resposta para essa pergunta pode aparecer mais rápido do que imaginamos. BZ


Gênero: neo-psicodélico
Lançamento: Maio de 2010
Produtor: Anthony Saffery
Selo: Equal Vision
Para ter uma idéia, ouça The Dead Dog, 1000 Years e The Pushers Party.
Assista ao video oficial de The Dead Dog

22.8.10

Melhores da Década: Interpol - Turn On the Bright Lights(2002)


"Surprise, sometimes, will come around..."

É com essas palavras que o novaiorquino
Interpol se apresenta em seu disco de estréia, Turn On the Bright Lights.
E se o excesso de cautela lhe soa estranho - e pretenciosamente despretencioso - talvez na época do lançamento do disco, sua atenção estivesse voltada para um outro ilustre grupo de Nova York, e seu álbum de estréia - este sim com um título carregado de falsa modéstia -
Is This It?.

Surgindo mais ou menos 1 ano após a estrondosa aparição de seu nêmesis - o quinteto empossado pela crítica musical com a missão de "salvar o rock n' roll" - o Interpol sabia o quão cauteloso deveria ser antes de prometer surpresas ao público.

Com apenas 6 versos e desprovida de um título, a faixa de abertura parece ter por finalidade anular qualquer predisposição do ouvinte a esperar por uma segunda - ou terceira? - vinda do messias.
Se o rock n' roll precisa ou não ser salvo, definitivamente essa não é uma questão que incomoda o grupo, que prefere ser mais modesto, e anunciar a segunda vinda do pós-punk britânico de grupos como Joy Division e Echo & the Bunnymen.

Esse revival, posteriormente uma tendencia adotada por diversos grupos ao longo da década, parece ter sido definido com maestria no carro chefe do disco Obstacle 1.
Ao longo de seus 3 minutos, a faixa explica de maneira detalhada como o grupo trouxe o estilo protegido em seu caixão da Inglaterra para Nova York, e que tipo de alterações comportamentais o mesmo incorporou ao se ver livre na Big Apple.

Faixas como NYC e PDA continuam a revelar diferentes facetas do grupo, sempre noturno, sempre desperto, tal qual a cidade que habita, e que parece definir tão bem em sua música.
Say Hello to the Angels surge carregada de tensão claustrofóbica, para então se resolver em um pop brilhante, e carregado das surpresas prometidas anteriormente.

O disco parece por vezes caminhar rumo aos primeiros raios de sol, como na introspectiva Hands Away. Mas ainda é cedo para um grupo que parece capaz de parar o tempo às 4 da manhã, e isso fica claro quando a temperatura volta a subir em Roland, até atingir seu clímax no instrumental lisérgico de The New.

Nos anos seguintes, o Interpol seguiu lançando bons discos, se estabeleceu como uma das grandes bandas dos anos 2000, e encontrou entre aqueles indiferentes ao salvamento do rock um público fiel.
Tudo sem nunca prometer mais do que algumas boas surpresas. BZ


Gênero: pós-punk
Lançamento: Agosto de 2002
Produtor: Peter Katis, Gareth Jones.
Selo: Matador
Para ter uma idéia, ouça
Obstacle 1, PDA e Leif Erickson
Assista o video oficial de
Obstacle 1

16.8.10

Serena-Maneesh - N°2: Abyss in B Minor(2010)


Quando o Serena-Maneesh foi apresentado ao mundo em meados de 2006, abrindo os shows das turnês européias do Oasis e do Nine Inch Nails, a Noruega já sofria há mais de meia década com o Ragnarok shoegazer promovido pelo grupo.

O apocalipse sonoro criado pela banda e seus incontáveis colaboradores - que em louváveis momentos de simplicidade, revelava influencias de grupos como My Bloody Valentine e Primal Screen , mantendo ainda um pé firme nos anos 70 - encontrou no hiato de 5 anos entre seu álbum de estréia e o novo, o tempo necessário para se confinar em uma caverna nos arredores de Oslo, transforma-la em estúdio, e pôr ordem na casa.

O resultado aparece sob o nome de N° 2: Abyss in B Minor, que ao contrário do que o título parece evocar, revela uma banda mais coesa, livre dos excessos do primeiro disco tanto em número de integrantes, quanto na própria duração do álbum.
Reduzido a seus 5 músicos principais, a bi-polaridade do grupo que atraiu a atenção de lendas do industrial e do britpop, se revela melhor controlada.

E isso não deve ser interpretado como um abandono ao psicodelismo, ou sua estética por vezes próxima de uma jam session. Ao contrário, a mesma aparece melhor desenvolvida, revelando em faixas como a climática abertura do disco, Ayisha Abyss, até que ponto o grupo consegue em pouco mais de 7 minutos explorar sonoridades mais diversas que nos quase 60 do disco de estréia.

Existem diversas armadilhas espalhadas pelo disco. Faixas como I Just Want to See Your Face Again ou D.I.W.S.W.T.T.D., apresentam melodias bonitas, mas algo parece fora de lugar. O grupo faz questão de manter a tensão mesmo em seus momentos mais radiofônicos, e ouvintes interessados na segurança amigável do easy listening, devem se distanciar da bela e etérea voz de Lina Holmstroem, que parece compartilhar com as sereias o costume de conduzir marinheiros de primeira viagem da calmaria à tormenta, e sem aviso prévio.

Outras faixas no entanto, não parecem ter a mínima vontade de esconder seu lado negro, como a densa Honey Jinx - prima nórdica de Scarecrow, do Ministry - ou Blow Yr Brains in the Morning, que soa como o mais bizarro pesadelo que um membro do Oasis poderia ter.

Certa vez o líder e principal compositor do grupo, Emil Nikolaisen, foi questionado quanto ao significado do nome de sua banda. Pouca gente entendeu, mas sua explicação demorada e repleta de metáforas, trazia a chave para se entender a natureza do grupo não em seu conteúdo, mas eu sua forma: às vezes, menos realmente significa mais, e aqui quanto menos explicações forem dadas, melhor. BZ


Gênero: Shoegazing, rock alternativo, noise pop
Lançamento: Março de 2010
Produtor: Emil Nikolaisen
Selo: 4AD
Para ter uma idéia, ouça Ayisha Abyss, I Just Want to See Your Face eMagdalena (Symphony #8).
Assista o video oficial de I Just Want to See Your Face.

11.8.10

HTDA - How To Destroy Angels(2010)


Dentre os diversos fatores que levam uma banda de renome a encerrar suas atividades, talvez o mais comum seja o agravamento de diferenças criativas e pessoais entre seus integrantes. Quando o grupo em questão nada mais é que o nome artistico de um certo Trent Reznor, muitas questões são levantadas. Assim como grandes expectativas.

Maior expoente do rock industrial nos anos 90, o Nine Inch Nails - como Trent costumava ser conhecido até o ano passado - explorou diversos rumos ao longo de seu período de atividade.
Desde sua estréia com o synthpop obscuro de Pretty Hate Machine(1989), Reznor incorporou o art rock em The Downard Spiral(1994), e o rock progressivo, no duplo, denso e pinkfloydiano The Fragile(1999), mantendo no entanto, uma fidelidade quase obsessiva a certos elementos, que serviram como marca de autenticidade em cada projeto com o qual se envolvia.

Tanto preciosismo em entregar discos superproduzidos, que mobilizavam ao longo de anos dezenas de músicos, artistas plásticos, sound designers e o próprio Reznor - que a certa altura se mudara de vez para dentro do estúdio - refletiu em uma subita mudança de rumo tomada na década seguinte.

Optando por deixar a parafernália do estúdio de lado para compor - e gravar - com seu laptop, Year Zero(2006), marca uma nova fase tomada pelo minimalismo, o emprego excessivo de noise e o flerte com a IDM de grupos como Aphex Twin.
Daí em diante Reznor passa a lançar discos quase anualmente, e a apresentar uma esquizofrenia que gera álbuns quádruplos instrumentais em um ano, e no seguinte, seu derradeiro trabalho The Slip(2008), cuja única pretenção parece ser a de soar o mais despretencioso possível.

Ao anunciar seu novo projeto, era natural que uma grande expectativa o antecipasse.
- Em que consistiria o disco que não se encaixava mais em um rótulo que já havia permitido todas as re-invenções possíveis?

A resposta a essa pergunta, surge sob o nome de HTDA - seguindo a predileção de Reznor por acrônimos - e traz o músico ao lado de seu colaborador de longa data Atticus Ross, e sua atual esposa Mariqueen Reznor nos vocais.
Basicamente o que se ouve no EP de 6 faixas é a sonoridade familiar aos últimos discos do NIN, dessa vez tendo como inovação um vocal feminino, que diga-se de passagem, deixa muito a desejar.

O disco abre com a carregada The Space in Between, que instrumentalmente prossegue do ponto em que Reznor havia parado. O interessante dos vocais, que provavelmente é a razão de tanto incômodo quando surgem, é o fato de parecerem ser perfeitos para a voz de Reznor. Confesso que enquanto ouvia a música, decidi imaginar a substituição, e só aí melhorei minha posição quanto ao pontencial da mesma.

Existem bons momentos no EP, que por mais simplório que seja, é fruto de músicos criativos e competentes, que com um talento louvável para salvar barcos naufragando, abordam desde o noise mais caótico em Parasite, ao electro clean e dançante em Fur Lined.
BBB traz um dueto de Reznor e Mariqueen, e nessa faixa ela parece finalmente se sentir mais à vontade, em um desempenho que com um pouco de boa vontade, pode até mesmo ser descrito como sexy.

The Believers poderia ser facilmente confundida com uma faixa perdida de Year Zero - e talvez seja - com seus barulhos dispersos e seu interlúdio psicodélico, onde um sintetizador é programado em tempo real até se transformar em uma máquina de pimbal, e mais uma vez revela os vocais de Reznor em segundo plano, sempre prontos para dar um suporte à esposa.

O disco consegue se salvar no final com A Drowning.
Livre de experimentos fora de controle, ela mantém uma estrutura simples, ainda que bem acabada, apoiada em um piano sustentado por belas texturas, que crescem até dar abertura ao riff de guitarra que, talvez, represente o melhor momento do disco.
Dentre todas as faixas, essa provavelmente possui o desempenho mais inexpressivo de Mariqueen. Felizmente Atticus e Reznor conseguem mais uma vez salvar a música, direcionando a atenção do ouvinte para o instrumental, e encerrando o disco com a impressão de que ainda que nada inovador, o projeto possui boas chances se um divórcio - musical - sair a tempo. BZ


Gênero: pós-industrial/dark ambient
Lançamento: Junho de 2010
Produtor: HTDA
Selo: The Null Corporation
Para ter uma idéia, ouça The Space in Between, The Believers e A Drowning
Assista o video oficial de The Space in Between

7.8.10

The Dead Weather - Sea of Cowards(2010)


Você acorda no meio da noite de um pesadelo bizarro, no qual se descobre amarrado e amordaçado em um porão escuro enquanto é torturado por um casal insano. 'I'm mad!!' grita a mulher, insandecida, enquanto seu companheiro dá uma risada nervosa enquanto registra tudo com uma câmera de mão.
Se algum dia você se vir nessa situação, é bem possível que tenha dormido ao som de Sea of Cowards, novo disco do The Dead Weather.

Menos de um ano se passou desde que a gangue formada por, Alisson Mosshart(The Kills), Dean Fertita(Queens of the Stone Age), Jack Lawrence(The Raconteurs) e o hiperativo Jack White(The White Stripes e The Raconteurs) saiu da garagem de White portando seu álbum de estréia Horehound(2009). Qualquer ceticismo com relação à participação de White como baterista, ou a delegação da função de vocalista à hora sexy, hora insana - na maior parte do tempo ambos - vocalista do The Kills, pôde ser silenciado antes mesmo do lançamento do disco. Após o single Hang You From the Heavens ser disponibilizado no site da banda, já não restavam dúvidas de que o agora baterista, vocalista e produtor sabia em que estava se metendo.

Sea of Cowards surge em tempo record, como uma extensão melhor desenvolvida do trabalho inicial, aliando agora ao barulhento blues-rock de antes, uma pegada mais funkeada.
A impressão que fica é que nesse disco, o grupo que antes soava como um projeto, se consolida como banda. Excessos são cortados, rebarbas soltas são aparadas, e White passa a dividir com maior frequencia os vocais com Mosshart, em uma simbiose que, por vezes, torna bastante difícil saber quem canta na música.

O disco abre com Blue Blood Blues, com White cantando versos como Check your lips at the door, woman/shake your hips like battleships - que soariam gangsta, se o clima da música não desse a impressão de que a banda escolheu como show de lançamento algum cenário do filme Jogos Mortais. A música se torna lentamente mais dançante, a medida em que se transforma na segunda faixa Hustle and Cuss, e Mosshart assume os vocais para responder a provocação de White a altura, cantando you're easy to fool and easy to catch/and i don't know if I want you to match my bets.

É difícil saber ao certo quando uma música acaba e outra tem início. O disco soa como a trilha sonora perfeita para algum road movie, dirigido pela improvável parceria entre Robert Rodriguez e Tim Burton. Ao som da cozinha blues e os constantes duelos de órgão e guitarra, um casal voa pelas estradas narrando histórias de amor e ódio, obsessão e êxtase.

O ritmo é por vezes acelerado, como em Jawbreaker, possivel fruto da união do Led Zeppelin com a Noiva de Frankenstein. O grupo pisa no acelerador sem dó, para então surpreender o ouvinte com o retorno de White aos vocais, com a balada esquisita Old Mary, que parece a versão em estágio de decomposição avançado de alguma música inofensiva dos White Stripes.

Por mais mistério que envolva as faixas do disco, nenhum é maior do que o referente ao tempo de vida do grupo, dado o costume de Jack White de interromper seus projetos quando menos se espera, para dar atenção a um novo.
Dure o quanto durar.
Sea of Cowards não é o tipo de pesadelo que é facilmente esquecido. BZ

Gênero: blues-rock/ rock alternativo
Lançamento: Maio de 2010
Produtor: Jack White
Selo: Third Man
Para ter uma idéia, ouça Gasoline, Jawbreaker e I'm Mad.
Assista o video oficial de Die By the Drop

5.8.10

Rasputina - Sister Kinderhook(2010)


É bastante comum ouvir um álbum e poder dizer com certa precisão a que época ele pertence. Os grandes acontecimentos globais influenciam as letras e a postura adotada pelos artistas, da mesma forma que a tecnologia disponível para gravação e criação de instrumentos musicais, por sua vez sempre definiu a sonoridade adotada.
Mesmo os trabalhos ditos "atemporais", assim são definidos por sua relevância garantir uma sobre-vida superior a de outras obras, cuja sonoridade ou conteúdo lírico fica tão atrelada a época em que foram feitos que não se pode evocar um sem trazer o outro junto.

O Rasputina não foge a regra, mas se torna bastante interessante quando a época em que sua idealizadora e personagem central, Melora Creager escolheu viver é a provinciana America do Norte do período vitoriano.

Fundado no Brooklin em 1991, o grupo anteriormente batizado como The Travelling Ladies' Cello Society reunia inicialmente Melora e mais 6 cellistas atraídas por um anuncio de jornal, sendo reduzido finalmente a 3 cadeiras e um baterista em seu primeiro álbum Thanks for the Ether(1996).
Bastante atraída por acontecimentos e personalidades do passado, Melora volta 100 anos e ambienta o grupo no ano de 1891, constrói as letras sobre temas que vão do famoso aviador Howard Hughes, ao curioso episódio em que o Papa autorizou os índios recém convertidos a comerem capivaras durante o período de jejum - tendo em vista que nessas tribos a capivara era considerada um peixe, e portanto, escapavam à classificação de carne vermelha.

O tão aguardado novo álbum, Sister Kinderhook, marca um resgate da sonoridade puramente acústica do primeiro disco. Os característicos pedais de guitarra, usados para distorcer o som dos cellos, foram finalmente devolvidos a Benjamin Franklin, ou quem quer que os tivesse projetado para o grupo no século 19. No entanto, quase 15 anos após o primeiro disco, se passaram - ainda que o grupo tenha voltado quase 90 anos no tempo - e as composições de Creager estão visivelmente mais maduras que antes.

Trazendo na capa o ano de 1809, o disco aborda o período colonial americano. Há espaço tanto para uma reflexão sobre a retomada de terras nas guerras Anti-rent, ocorridas no estado de Nova York nos anos 40, como para a descoberta de gigantescas ossadas encontradas em Ohio, que pertenceriam a uma extinta raça de gigantes que caminhou sobre a terra no passado, até desaparecer graças a um auto-genocídio. Pois é.

O disco se revela consistente já na primeira faixa, Sweet Sister Temperance, constituída puramente da interação entre os cellos de Creager e Daniel DeJesus - primeiro homem a ocupar a segunda cadeira na banda - com a percussionista Catie D'Amica. Há um destaque para as belas harmonias criadas com a sobreposição de vocais de Melora, técnica freqüentemente empregada no disco.

DeJesus, inclusive, é responsável por algumas das melhores surpresas do álbum. Existe muita química entre ele e Creager, seja ela sentida na sobreposição dos cellos ou na interação entre os vocais de ambos, rendendo momentos memoráveis como Calico Indians, provavelmente uma das melhores peças da compositora.

A percussão se mantém discreta ao longo do disco, funcionando mais como um efeito que unidade rítmica na maioria das faixas, ainda que eventualmente ganhe papel fundamental - como na solenidade de Humankind, as the Sailor, ou aliada ao dulcimer no baile caipira de Olde Dance.

Ao longo do disco, sinto falta apenas das narrativas recitadas por Melora, que aqui tem como única representante a faixa Utopian Society, na qual critica as sociedades escravistas do passado por meio das sociedades utópicas de Pavonia - terra dos pavãos, e Swaanendael - terra dos cisnes. Crítica social é permitida sim, contanto que devida e bizarramente disfarçada.


Após 14 faixas sobra espaço para uma reflexão pessoal em This, My Porcelain Life. Carregada por um piano fantasmagórico, a faixa evoca a dor trazida pela perda de um amigo, e encerra o disco nos trazendo de volta ao ano de 2010, felizes em saber que possuímos uma máquina do tempo à disposição em meio ao caos do século XXI, e que após anos de dedicação, sua operadora não dá sinais de se aposentar do cargo. BZ


Gênero: cello rock/steampunk
Lançamento: Junho de 2010
Produtor: Melora Creager
Selo: Filthy Bonnet Recording Co.
Para ter uma idéia, ouça Holocaus of Giants, Calico Indians e Meant to be Dutch

2.8.10

Arcade Fire - The Suburbs(2010)


Imagine a sensação de nascer em uma cidadezinha nas montanhas, viver ao lado de pouco mais de 50 pessoas, e então se mudar ainda criança com a família para os subúrbios de uma grande cidade como Houston, Texas. Para os irmãos Will e Win Butler, integrantes do hepteto Arcade Fire, a experiência é recordada como uma jornada análoga às da literatura fantástica de Júlio Verne.

Agora, imagine lançar 2 discos aclamados por crítica, público e David Bowie, e ter a difícil missão de seu terceiro álbum atender às altas expectativas, sem abrir mão da inovação.

Com The Suburbs(2010), o grupo de Montreal teve muitos fantasmas para enfrentar. Hora sob a forma das desilusões do vocalista, carente das fantasias e do otimismo dos tempos de criança, hora sob a forma da pressão imposta por seus próprios sucessos anteriores.

Após uma primeira audição, percebe-se que a banda se encontra disposta a enfrentar todos de uma vez.
Diferentemente de seus predecessores, o álbum parece ter sido composto como uma única peça dividida em 16 capítulos. Não se encontram aqui hits absolutos como No Cars Go ou Rebellion, mas faixas consistentes, que funcionam juntas para contar um história. E nessa narrativa, Butler se desapega do escapismo exaltado nas letras dos discos anteriores, promovendo o confronto direto de seus dois pólos ideológicos, um representado pelos sonhos de infância, outro dominado pela descrença com o presente, e analisa sua trajetória e os diversos rumos que poderia ter tomado.
Se Funeral(2004) falava sobre familia e as origens dos integrantes da banda, o novo álbum representa um retorno a essas raizes para descobrir o que mudou após tanto tempo longe da cidade natal.

O disco abre com a otimista The Suburbs, um folk apoiado em piano e violão, que em matéria de arranjo parece mais vizinho da leveza costumeira de um certo Paul McCartney - este inclusive, bastante familiar ao tema do disco - que dos habitantes da igreja em que o trabalho anterior do grupo, Neon Bible(2007), foi gravado.
O arranjo simples é mantido pelas próximas faixas, progressivamente aumentando em intensidade até a tensão culminar com o destaque da primeira metade do disco, a grandiosa Empty Room,e o ritmo alucinante de suas cordas que lembra bastante os pontos altos do primeiro disco.

A segunda metade do álbum possui um clima bastante oitentista, remetendo por vezes tanto às bases eletrônicas do Depeche Mode, quanto às baladas emblemáticas do R.E.M.
Ainda sobram surpresas para quem julgava ter conhecido todas as faces da banda - como em Month of May que eleva o aspecto dançante do grupo ao limite - até terminar com a orquestra eletrônica de Sprawl II e o solene desfecho em The Suburbs(continued).

A última música revela a faixa de abertura sob uma ótica bem menos ensolarada que antes, talvez ilustrando que agora os tempos de infancia em Houston ficaram para trás, e Winn Butler e sua banda possuem a confiança necessária para seguir em frente, tendo exorcizado todos os fantasmas que poderiam atrapalhar a passagem. BZ


Gênero: Folk rock/indie
Lançamento: Agosto de 2010
Produtor: Markus Draves, Arcade Fire
Selo: Merge
Para ter uma idéia, ouça The Suburbs, Empty Room e We Used to Wait.

30.7.10

The Dillinger Escape Plan - Option Paralysis(2010)


Quando questionado a respeito do significado de Option Paralysis, o vocalista Greg Puciato define o termo como "a tendencia, quando dadas ilimitadas possibilidades de escolha, de não fazer uma decisão". Vendo por este ângulo, poucas vezes o título de um álbum explicou tão bem seu conteúdo.

O trabalho anterior da banda, Ire Works(2007) pareceu estabelecer de vez a direção mais melódica adotada pela banda em Miss Machine(2004), obtida muitas vezes por meio de experimentos eletrônicos que os aproximaram nos momentos mais agressivos do IDM de artistas como Aphex Twin, e em determinados pontos, até mesmo rendendo alusões a jazz contemporâneo e comparações com Radiohead - quem duvida, sugiro uma audição do épico Mouth of Ghosts.

No novo álbum, o grupo de metal mais cerebral de todos os tempos abandona os recursos eletrônicos de vez, e apoia seu experimentalismo no costumeiro abuso de alterações bruscas de climas, assinaturas de tempo, e vocais esquizofrênicos, que atraíram a atenção de Mike Patton no passado - levando o mesmo, inclusive, a gravar todos os vocais em um disco do grupo - mas dessa vez da maneira mais organica possível.

Tudo isso pode ser sentido na faixa de abertura Farewell, Mona Lisa, que parece agregar em seus 5 minutos um resumo da dinâmica a ser adotada pelos próximos 40.
Inicia tomando o ouvinte de assalto pela mais brutal cacofonia que seus tímpanos podem aguentar, aumentando a velocidade até bater de frente com o muro, dando lugar a uma das melodias mais marcantes já registradas pela banda.

É com esse tipo de surpresas que você irá lidar ao longo do disco, esperando por minutos por uma vírgula, um leve segundo de descanso sem nunca recebe-lo, como em Crystal Mornings e Endless Endings - título apropriado - e então sem prévio aviso se deparar com a melancólica Widower, construída sobre os pianos de Mike Garson - convidado do disco que já colaborou com Trent Reznor e Smashing Pumpkins além de ser responsável por clássicos de David Bowie como Hearts Filthy Lesson, e Alladin Sane.

Trent Reznor, inclusive, também é evocado na sombria Parasitic Twins, perturbadora como os trabalhos dos bons tempos do Nine Inch Nails.


Assim termina Option Paralysis, inesperadamente resgatando a eletronica de Ire Works e revelando que às vezes, as opções são tantas que o melhor a fazer é escolher todas de uma vez. BZ


Gênero: Mathcore
Lançamento: Março de 2010
Produtor: Steve Evetts, Benjamin Weinman
Selo: Party Smasher(Season of Mist)
Para ter uma idéia, ouça Farewell, Mona Lisa, Widower e I Wouldn't If You Don't

27.7.10

Deftones - Diamond Eyes(2010)


Algumas bandas tendem a passar toda sua vida útil se reinventando continuamente, sacrificando muitas vezes méritos alcançados no disco anterior, em prol do movimento. Outras se acomodam após um grande sucesso, e caem na estupidez de se tornar covers de sí próprias, fadadas a deixar um legado de discos muito bons, muito semelhantes e sempre inferiores ao trabalho de maior sucesso.
'Já que se superar é impossível, melhor descer a montanha pela trilha mais segura...'

Um caminho interessante no entanto é o seguido pelo quinteto californiano Deftones desde o lançamento de White Pony(2000), maior êxito comercial da banda até hoje.
Talvez por nunca terem se deslumbrado com o poder do disco e com o sucesso alcançado com o mesmo, seguiram em frente como se nada tivesse acontecido, revelando a cada novo lançamento um rumo coerente ao trabalho anterior, ainda que em constante e gradativa evolução.
Evolução perceptível principalmente na preocupação da banda em trabalhar cada vez mais texturas e a atmosfera eletrônica por trás das músicas, influencia provável do envolvimento do líder Chino Moreno com o Team Sleep, projeto que mescla rock alternativo e trip hop - e que cai como uma luva para os vocais hora etéreos, hora insandecidos do vocalista.

Diamond Eyes, o novo disco, surge do conturbado arquivamento do projeto anterior Eros - que teve seu lançamento postergado indefinidamente após a crise que se abateu sobre a banda após o acidente sofrido por seu baixista Chi Cheng levando o mesmo ao coma - e da decisão de em meio à dor, criar um álbum mais positivo e livre da temática obscura e pesada que envolvia o disco anterior.

Mais conciso que seu predecessor Saturday Night Wrist(2006), o disco transita entre faixas de peso que resgatam o hardocore cru dos primeiros trabalhos, como Rocket Skates, e momentos mais oníricos como a claustrofóbica You've Seen the Butcher, mantendo no entanto uma sonoridade constante, que revela uma banda amadurecida o bastante a ponto de evoluir sem esquecer seu passado, agregando ao som a experiência de todas as fases pelas quais já passou ao mesmo tempo em que aponta para novos caminhos.

Não é de se surpreender que o único sobrevivente do póstumo "nü-metal" seja justamente a banda que nunca se enquadrou dentro do rótulo, por aceitar melhor que qualquer outro expoente do suposto gênero as mudanças, não como necessidade ou algo a ser evitado, mas como algo natural e inevitável na música e na vida. BZ


Gênero: Metal Alternativo
Lançamento: Maio de 2010
Produtor: Nick Raskulinecz
Selo: Reprise, Warner Bros
Para ter uma idéia, ouça Diamond Eyes, Royal e This Place is Death
Assista ao video oficial de Rocket Skates

26.7.10

Taylor Hawkins & The Coattail Riders - Red Light Fever (2010)


Há uns bons 15 anos, o baterista de uma famosa extinta banda de Seattle decidiu ir para a frente do palco e se aventurar como frontman em seu próprio projeto.
A aventura foi bem sucedida a ponto de anos depois, o agora plenamente bem estabelecido frontman(e baterista, e baixista, e o que der na telha dele) Dave Grohl inspirar seu próprio batera a fazer o mesmo! E é aí que Taylor Hawkins e seus Coattail Riders entram em cena, agora já em seu segundo disco Red Light Fever.

Talvez por não ter ouvido antes o primeiro disco da banda, talvez a proximidade de Taylor com Dave Grohl, talvez eu estivesse realmente pré-disposto a comparar a banda de cara com algum projeto ao qual o líder estivesse associado.
O fato é que bastaram os primeiros segundos da introdução de Not Bad Luck para o nome Them Crooked Vultures aparecer em letras garrafais na minha mente. E assim que a música começa de fato, é o Foo Fighters que surge como principal referencia.
Dado o tempo de estrada de Taylor ao lado de sua banda original, e sua proximidade musical com o vocalista, é bastante natural e até positivo ouvir o disco e reconhecer que ele continua sendo o baterista do Foo Fighters, mas o interessante aqui é sentir também um quê de Josh Homme, que ainda não existia no primeiro disco, perceptível aqui e alí na estranheza de certos fraseados de guitarra característicos dos projetos de Homme(principalmente aqueles em que Grohl está envolvido).

As referencias são evidentes(e em alguns casos como na já citada Not Bad Luck, ou Way Down, vez ou outra o Queen é claramente evocado), mas vale ressaltar a identidade própria e autonomia criativa de seu líder, que é visível no clima de maneira geral ensolarado e tipicamente californiano, e com um apelo pop dificilmente alcançado pelo Foo Fighters, pelo qual o disco caminha do início ao fim.
Seja pela psicodelia de Hell to Pay, o stadium rock Never Enough, ou o pós-grunge de James Gang, o disco mantem a sonoridade por um mérito que não pertence agora a nenhuma das referencias citadas, mas ao próprio Taylor Hawkins, que em meio a um caótico caldeirão de referencias, consegue falar mais alto e definir uma imagem própria com grande competência, revelada justamente nos pontos marcantes do disco.


O álbum foi produzido pelo desconhecido produtor e conhecido baterista Drew Hester que como todo bom batera deu tratamento especial para a cozinha. Não que tenha pecado em alguma coisa, muito pelo contrário, a surpresa só não é tão grande para quem já conhecia o trabalho dele em The Pretender, primeiro single do ultimo do Foo Fighters, Echoes, Silence, Patience & Grace que ele assina os creditos da mixagem. BZ


Gênero: Rock Alternativo
Lançamento: Abril de 2010
Produtor: Drew Hester
Para ter uma idéia, ouça Not Bad Luck, I Don't Think I Trust You Anymore e Sunshine

amigos e inimigos da música moderna

"Zeitgeist"

O termo alemão, responsável por sintetizar o panorama artistico de toda uma época, teve sua primeira aparição no meu vocabulário em idos de 2007, quando um tal Smashing Pumpkins(que para uns como eu foi uma das maiores bandas dos anos 90, e para outros não significa muita coisa além da insistente presença de "1979" como trilha sonora obrigatória na noite rock paulistana), anunciou o termo como título de seu álbum de retorno. Sim, mais um daqueles revivals nostálgicos que procuram emular o que a banda foi em seu auge, e geralmente terminam com um bando de jovens senhores em cima do palco, tentando resgatar o que era ter vinte e poucos anos, e não ter metade das preocupações que adquiriram com o tempo.
Um alívio temporário para estes e para os fãs, que passada a euforia inicial, logo chegam à inevitável conclusão de que por melhor que seja rever velhos amigos, se estes pararam no tempo fica difícil acompanhar a velha conversa por muito tempo.

Passada a euforia inicial eu também segui com a minha vida, até voltar a bater de frente com o termo, dessa vez como título de um impressionante documentário que busca em uma missão quase impossível, unir cristianismo, religião egípcia, 11 de Setembro e o Banco Central dos Estados Unidos! Tudo parece fazer bastante sentido, graças à paixão com a qual o filme insere teorias conspiratórias e sociedades secretas por trás de cada pequeno detalhe dos nossos dias. Infelizmente, após uma leve pesquisa sobre as fontes e termos citados, fica claro que como toda boa paranóia esta também se baseia em reflexos que muitas vezes são revelados por espelhos bastante turvos.

Até aí eu já estava bastante impressionado, como um termo alemão e bastante fora de eixo para qualquer pessoa que não estude a filosofia de Hegel e Herder no dia a dia, pôde ter se tornado tão corriqueiro no meu vocabulário e no de qualquer um que se interessasse por rock alternativo ou documentários malucos.
Acho que talvez seja justamente esse o tal -espirito do tempo-, tradução livre e aproximada do termo, que talvez algum dia represente a primeira década do século XXI: uma década de fácil acesso ao conhecimento, ainda que este muitas vezes venha filtrado por mentes de confiabilidade duvidosa, e o resgate de heróis do passado, ainda que estes muitas vezes encarem a árdua tarefa de serem novos e velhos ao mesmo tempo.
Tudo é possível, os opostos coexistem e quem perdeu alguma coisa pode agora participar da reinvenção da mesma.

A idéia aqui é falar sobre cultura pop, e ao invés de unir gregos e troianos como o diretor do documentário, vou me ater a falar especificamente sobre a música, e eventualmente trazer alguns dinossauros de volta à vida como Billy Corgan, e seu Smashing Pumpkins(dando ênfase aqui para o "seu").

Sejam todos bem vindos. E chega de introdução. BZ