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30.7.10

The Dillinger Escape Plan - Option Paralysis(2010)


Quando questionado a respeito do significado de Option Paralysis, o vocalista Greg Puciato define o termo como "a tendencia, quando dadas ilimitadas possibilidades de escolha, de não fazer uma decisão". Vendo por este ângulo, poucas vezes o título de um álbum explicou tão bem seu conteúdo.

O trabalho anterior da banda, Ire Works(2007) pareceu estabelecer de vez a direção mais melódica adotada pela banda em Miss Machine(2004), obtida muitas vezes por meio de experimentos eletrônicos que os aproximaram nos momentos mais agressivos do IDM de artistas como Aphex Twin, e em determinados pontos, até mesmo rendendo alusões a jazz contemporâneo e comparações com Radiohead - quem duvida, sugiro uma audição do épico Mouth of Ghosts.

No novo álbum, o grupo de metal mais cerebral de todos os tempos abandona os recursos eletrônicos de vez, e apoia seu experimentalismo no costumeiro abuso de alterações bruscas de climas, assinaturas de tempo, e vocais esquizofrênicos, que atraíram a atenção de Mike Patton no passado - levando o mesmo, inclusive, a gravar todos os vocais em um disco do grupo - mas dessa vez da maneira mais organica possível.

Tudo isso pode ser sentido na faixa de abertura Farewell, Mona Lisa, que parece agregar em seus 5 minutos um resumo da dinâmica a ser adotada pelos próximos 40.
Inicia tomando o ouvinte de assalto pela mais brutal cacofonia que seus tímpanos podem aguentar, aumentando a velocidade até bater de frente com o muro, dando lugar a uma das melodias mais marcantes já registradas pela banda.

É com esse tipo de surpresas que você irá lidar ao longo do disco, esperando por minutos por uma vírgula, um leve segundo de descanso sem nunca recebe-lo, como em Crystal Mornings e Endless Endings - título apropriado - e então sem prévio aviso se deparar com a melancólica Widower, construída sobre os pianos de Mike Garson - convidado do disco que já colaborou com Trent Reznor e Smashing Pumpkins além de ser responsável por clássicos de David Bowie como Hearts Filthy Lesson, e Alladin Sane.

Trent Reznor, inclusive, também é evocado na sombria Parasitic Twins, perturbadora como os trabalhos dos bons tempos do Nine Inch Nails.


Assim termina Option Paralysis, inesperadamente resgatando a eletronica de Ire Works e revelando que às vezes, as opções são tantas que o melhor a fazer é escolher todas de uma vez. BZ


Gênero: Mathcore
Lançamento: Março de 2010
Produtor: Steve Evetts, Benjamin Weinman
Selo: Party Smasher(Season of Mist)
Para ter uma idéia, ouça Farewell, Mona Lisa, Widower e I Wouldn't If You Don't

27.7.10

Deftones - Diamond Eyes(2010)


Algumas bandas tendem a passar toda sua vida útil se reinventando continuamente, sacrificando muitas vezes méritos alcançados no disco anterior, em prol do movimento. Outras se acomodam após um grande sucesso, e caem na estupidez de se tornar covers de sí próprias, fadadas a deixar um legado de discos muito bons, muito semelhantes e sempre inferiores ao trabalho de maior sucesso.
'Já que se superar é impossível, melhor descer a montanha pela trilha mais segura...'

Um caminho interessante no entanto é o seguido pelo quinteto californiano Deftones desde o lançamento de White Pony(2000), maior êxito comercial da banda até hoje.
Talvez por nunca terem se deslumbrado com o poder do disco e com o sucesso alcançado com o mesmo, seguiram em frente como se nada tivesse acontecido, revelando a cada novo lançamento um rumo coerente ao trabalho anterior, ainda que em constante e gradativa evolução.
Evolução perceptível principalmente na preocupação da banda em trabalhar cada vez mais texturas e a atmosfera eletrônica por trás das músicas, influencia provável do envolvimento do líder Chino Moreno com o Team Sleep, projeto que mescla rock alternativo e trip hop - e que cai como uma luva para os vocais hora etéreos, hora insandecidos do vocalista.

Diamond Eyes, o novo disco, surge do conturbado arquivamento do projeto anterior Eros - que teve seu lançamento postergado indefinidamente após a crise que se abateu sobre a banda após o acidente sofrido por seu baixista Chi Cheng levando o mesmo ao coma - e da decisão de em meio à dor, criar um álbum mais positivo e livre da temática obscura e pesada que envolvia o disco anterior.

Mais conciso que seu predecessor Saturday Night Wrist(2006), o disco transita entre faixas de peso que resgatam o hardocore cru dos primeiros trabalhos, como Rocket Skates, e momentos mais oníricos como a claustrofóbica You've Seen the Butcher, mantendo no entanto uma sonoridade constante, que revela uma banda amadurecida o bastante a ponto de evoluir sem esquecer seu passado, agregando ao som a experiência de todas as fases pelas quais já passou ao mesmo tempo em que aponta para novos caminhos.

Não é de se surpreender que o único sobrevivente do póstumo "nü-metal" seja justamente a banda que nunca se enquadrou dentro do rótulo, por aceitar melhor que qualquer outro expoente do suposto gênero as mudanças, não como necessidade ou algo a ser evitado, mas como algo natural e inevitável na música e na vida. BZ


Gênero: Metal Alternativo
Lançamento: Maio de 2010
Produtor: Nick Raskulinecz
Selo: Reprise, Warner Bros
Para ter uma idéia, ouça Diamond Eyes, Royal e This Place is Death
Assista ao video oficial de Rocket Skates

26.7.10

Taylor Hawkins & The Coattail Riders - Red Light Fever (2010)


Há uns bons 15 anos, o baterista de uma famosa extinta banda de Seattle decidiu ir para a frente do palco e se aventurar como frontman em seu próprio projeto.
A aventura foi bem sucedida a ponto de anos depois, o agora plenamente bem estabelecido frontman(e baterista, e baixista, e o que der na telha dele) Dave Grohl inspirar seu próprio batera a fazer o mesmo! E é aí que Taylor Hawkins e seus Coattail Riders entram em cena, agora já em seu segundo disco Red Light Fever.

Talvez por não ter ouvido antes o primeiro disco da banda, talvez a proximidade de Taylor com Dave Grohl, talvez eu estivesse realmente pré-disposto a comparar a banda de cara com algum projeto ao qual o líder estivesse associado.
O fato é que bastaram os primeiros segundos da introdução de Not Bad Luck para o nome Them Crooked Vultures aparecer em letras garrafais na minha mente. E assim que a música começa de fato, é o Foo Fighters que surge como principal referencia.
Dado o tempo de estrada de Taylor ao lado de sua banda original, e sua proximidade musical com o vocalista, é bastante natural e até positivo ouvir o disco e reconhecer que ele continua sendo o baterista do Foo Fighters, mas o interessante aqui é sentir também um quê de Josh Homme, que ainda não existia no primeiro disco, perceptível aqui e alí na estranheza de certos fraseados de guitarra característicos dos projetos de Homme(principalmente aqueles em que Grohl está envolvido).

As referencias são evidentes(e em alguns casos como na já citada Not Bad Luck, ou Way Down, vez ou outra o Queen é claramente evocado), mas vale ressaltar a identidade própria e autonomia criativa de seu líder, que é visível no clima de maneira geral ensolarado e tipicamente californiano, e com um apelo pop dificilmente alcançado pelo Foo Fighters, pelo qual o disco caminha do início ao fim.
Seja pela psicodelia de Hell to Pay, o stadium rock Never Enough, ou o pós-grunge de James Gang, o disco mantem a sonoridade por um mérito que não pertence agora a nenhuma das referencias citadas, mas ao próprio Taylor Hawkins, que em meio a um caótico caldeirão de referencias, consegue falar mais alto e definir uma imagem própria com grande competência, revelada justamente nos pontos marcantes do disco.


O álbum foi produzido pelo desconhecido produtor e conhecido baterista Drew Hester que como todo bom batera deu tratamento especial para a cozinha. Não que tenha pecado em alguma coisa, muito pelo contrário, a surpresa só não é tão grande para quem já conhecia o trabalho dele em The Pretender, primeiro single do ultimo do Foo Fighters, Echoes, Silence, Patience & Grace que ele assina os creditos da mixagem. BZ


Gênero: Rock Alternativo
Lançamento: Abril de 2010
Produtor: Drew Hester
Para ter uma idéia, ouça Not Bad Luck, I Don't Think I Trust You Anymore e Sunshine

amigos e inimigos da música moderna

"Zeitgeist"

O termo alemão, responsável por sintetizar o panorama artistico de toda uma época, teve sua primeira aparição no meu vocabulário em idos de 2007, quando um tal Smashing Pumpkins(que para uns como eu foi uma das maiores bandas dos anos 90, e para outros não significa muita coisa além da insistente presença de "1979" como trilha sonora obrigatória na noite rock paulistana), anunciou o termo como título de seu álbum de retorno. Sim, mais um daqueles revivals nostálgicos que procuram emular o que a banda foi em seu auge, e geralmente terminam com um bando de jovens senhores em cima do palco, tentando resgatar o que era ter vinte e poucos anos, e não ter metade das preocupações que adquiriram com o tempo.
Um alívio temporário para estes e para os fãs, que passada a euforia inicial, logo chegam à inevitável conclusão de que por melhor que seja rever velhos amigos, se estes pararam no tempo fica difícil acompanhar a velha conversa por muito tempo.

Passada a euforia inicial eu também segui com a minha vida, até voltar a bater de frente com o termo, dessa vez como título de um impressionante documentário que busca em uma missão quase impossível, unir cristianismo, religião egípcia, 11 de Setembro e o Banco Central dos Estados Unidos! Tudo parece fazer bastante sentido, graças à paixão com a qual o filme insere teorias conspiratórias e sociedades secretas por trás de cada pequeno detalhe dos nossos dias. Infelizmente, após uma leve pesquisa sobre as fontes e termos citados, fica claro que como toda boa paranóia esta também se baseia em reflexos que muitas vezes são revelados por espelhos bastante turvos.

Até aí eu já estava bastante impressionado, como um termo alemão e bastante fora de eixo para qualquer pessoa que não estude a filosofia de Hegel e Herder no dia a dia, pôde ter se tornado tão corriqueiro no meu vocabulário e no de qualquer um que se interessasse por rock alternativo ou documentários malucos.
Acho que talvez seja justamente esse o tal -espirito do tempo-, tradução livre e aproximada do termo, que talvez algum dia represente a primeira década do século XXI: uma década de fácil acesso ao conhecimento, ainda que este muitas vezes venha filtrado por mentes de confiabilidade duvidosa, e o resgate de heróis do passado, ainda que estes muitas vezes encarem a árdua tarefa de serem novos e velhos ao mesmo tempo.
Tudo é possível, os opostos coexistem e quem perdeu alguma coisa pode agora participar da reinvenção da mesma.

A idéia aqui é falar sobre cultura pop, e ao invés de unir gregos e troianos como o diretor do documentário, vou me ater a falar especificamente sobre a música, e eventualmente trazer alguns dinossauros de volta à vida como Billy Corgan, e seu Smashing Pumpkins(dando ênfase aqui para o "seu").

Sejam todos bem vindos. E chega de introdução. BZ