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2.8.10

Arcade Fire - The Suburbs(2010)


Imagine a sensação de nascer em uma cidadezinha nas montanhas, viver ao lado de pouco mais de 50 pessoas, e então se mudar ainda criança com a família para os subúrbios de uma grande cidade como Houston, Texas. Para os irmãos Will e Win Butler, integrantes do hepteto Arcade Fire, a experiência é recordada como uma jornada análoga às da literatura fantástica de Júlio Verne.

Agora, imagine lançar 2 discos aclamados por crítica, público e David Bowie, e ter a difícil missão de seu terceiro álbum atender às altas expectativas, sem abrir mão da inovação.

Com The Suburbs(2010), o grupo de Montreal teve muitos fantasmas para enfrentar. Hora sob a forma das desilusões do vocalista, carente das fantasias e do otimismo dos tempos de criança, hora sob a forma da pressão imposta por seus próprios sucessos anteriores.

Após uma primeira audição, percebe-se que a banda se encontra disposta a enfrentar todos de uma vez.
Diferentemente de seus predecessores, o álbum parece ter sido composto como uma única peça dividida em 16 capítulos. Não se encontram aqui hits absolutos como No Cars Go ou Rebellion, mas faixas consistentes, que funcionam juntas para contar um história. E nessa narrativa, Butler se desapega do escapismo exaltado nas letras dos discos anteriores, promovendo o confronto direto de seus dois pólos ideológicos, um representado pelos sonhos de infância, outro dominado pela descrença com o presente, e analisa sua trajetória e os diversos rumos que poderia ter tomado.
Se Funeral(2004) falava sobre familia e as origens dos integrantes da banda, o novo álbum representa um retorno a essas raizes para descobrir o que mudou após tanto tempo longe da cidade natal.

O disco abre com a otimista The Suburbs, um folk apoiado em piano e violão, que em matéria de arranjo parece mais vizinho da leveza costumeira de um certo Paul McCartney - este inclusive, bastante familiar ao tema do disco - que dos habitantes da igreja em que o trabalho anterior do grupo, Neon Bible(2007), foi gravado.
O arranjo simples é mantido pelas próximas faixas, progressivamente aumentando em intensidade até a tensão culminar com o destaque da primeira metade do disco, a grandiosa Empty Room,e o ritmo alucinante de suas cordas que lembra bastante os pontos altos do primeiro disco.

A segunda metade do álbum possui um clima bastante oitentista, remetendo por vezes tanto às bases eletrônicas do Depeche Mode, quanto às baladas emblemáticas do R.E.M.
Ainda sobram surpresas para quem julgava ter conhecido todas as faces da banda - como em Month of May que eleva o aspecto dançante do grupo ao limite - até terminar com a orquestra eletrônica de Sprawl II e o solene desfecho em The Suburbs(continued).

A última música revela a faixa de abertura sob uma ótica bem menos ensolarada que antes, talvez ilustrando que agora os tempos de infancia em Houston ficaram para trás, e Winn Butler e sua banda possuem a confiança necessária para seguir em frente, tendo exorcizado todos os fantasmas que poderiam atrapalhar a passagem. BZ


Gênero: Folk rock/indie
Lançamento: Agosto de 2010
Produtor: Markus Draves, Arcade Fire
Selo: Merge
Para ter uma idéia, ouça The Suburbs, Empty Room e We Used to Wait.

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